sexta-feira, 29 de abril de 2016

Começa escavação do túnel mais longo da Tamoios


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Foto: A2img / Eduardo Saraiva


29/04/2016 - Via Trólebus

Caio Lobo

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, esteve nesta quinta, 28, no canteiro de obras da duplicação da Rodovia dos Tamoios para dar início ao primeiro dos cinco túneis previstos na obra. Este, em questão, será o túnel mais longo do estado, com 3.675 metros, superando o túnel de 3.146 metros da Rodovia dos Imigrantes.

“Uma autoestrada com tecnologia de ponta, grandes cuidados ambientais e que começa agora, já aqui com a explosão do chamado túnel 5. As obras começam de Caragua para São José, para Paraibuna, e daqui a alguns meses começa de lá para cá, vão se encontrar as duas frentes de trabalho. É uma rodovia com segurança, conforto, qualidade, sem grandes impactos ambientais e promovendo o desenvolvimento do litoral e do Vale do Paraíba. Uma ligação histórica em uma das regiões mais industrializadas do mundo”, disse Alckmin.

A obra começou em dezembro e deve ser entregue em 2020. A responsável pela obra é a concessionária Tamoios com gerenciamento e fiscalização da Artesp.


Foto: A2img / Eduardo Saraiva
Foto: A2img / Eduardo Saraiva
“A concessionária está recuperando o trecho antigo, o pavimento, fazendo a iluminação da Serra. Acho que mais 30 dias toda a Serra estará iluminada, recuperando sinalização, obras de arte, e a operação da rodovia com um conceito de rodovia viva, com ambulância, carro guincho, telefonia, câmeras de vídeo”, complementou o governador.

Oito meses depois de iniciada a frente de trabalho terá início a escavação em São José dos Campos, que será realizada sentido Caraguatatuba. A entrada do túnel se interligará com o Contorno de Caraguatatuba através de um viaduto de quase um quilômetro de extensão, cujos pilares terão cerca de 40 metros de altura.

Dos 21,6 quilômetros de novas pistas – entre o km 60,4 e o km 82 -, 12,6 quilômetros são referentes aos cinco túneis da obra, e haverá ainda nove viadutos, uma ponte e um pontilhão.

domingo, 10 de abril de 2016

Com 6 mil km, conexão Rio-Lima testa resistência de passageiros


A linha vai do Atlântico ao Pacífico; trajeto passa por mais de 120 cidades, corta sete estados brasileiros e seis departamentos peruanos
   
POR RAFAEL GALDO 

10/04/2016 - O Globo

Ônibus da empresa peruana Omeño que faz a linha Rio-Lima cruza o Rio Madeira numa balsa: ponte ainda não ficou pronta - Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Na bagagem, um viajante costuma carregar mais do que objetos. E o que os passageiros da linha de ônibus mais extensa do mundo levam entre o Rio e Lima, capital do Peru, inclui sonhos, saudades, desejos de aventura e algumas frustrações. São 6.035 quilômetros da costa do Oceano Atlântico à do Pacífico, atravessando o cerrado, a Amazônia e a Cordilheira dos Andes. Um percurso operado desde janeiro pela empresa peruana Ormeño, que dura, no mínimo, cinco dias, partindo da Rodoviária Novo Rio ou de Lima, duas vezes por semana, com paradas de não mais de duas horas e passagem a R$ 820. Uma equipe do GLOBO embarcou nessa aventura com outros 46 passageiros. E, depois de 116 horas cruzando 120 municípios em setes estados brasileiros e seis departamentos peruanos, constatou que esse é um desafio encarado, quase sempre, por quem tem grandes motivações no fim da jornada, como será relatado em reportagens hoje e amanhã.

Primeiro dia - Quarta-feira

Às 9h15m de uma quarta-feira de março, quando o motorista deu a partida no ônibus, no Rio, ainda eram poucos os passageiros: seis, junto com três motoristas que se revezariam ao volante. Mas o silêncio dos instantes iniciais já evidenciava as expectativas que pairavam no ar, em histórias como a do espanhol Luis Morán, que dava a volta ao planeta numa pesquisa sobre políticas de gênero. Da janela, o dia cinzento na Via Dutra levava ao primeiro destino: o Terminal Tietê, em São Paulo, onde mais 35 viajantes subiriam. Aventureiros como a havaiana Angelika James, rumo a Machu Picchu. Mas também pessoas como Hilario Huamaní, peruano para quem o trabalho em São Paulo deixou de compensar devido à crise econômica no Brasil.

Viagem retomada, à noite, a parada para o jantar no Oeste paulista começaria a misturar os passageiros, entre eles e também com quem topavam no caminho. E, de repente, o ucraniano Eugenio Serguei, falando pouco português, já batia bola com o filho de um caminhoneiro.

— Saímos, um amigo e eu, de uma região perto da fronteira com a Rússia para ficar um tempo longe da guerra entre a Rússia e a Ucrânia — contava Eugenio.

Segundo dia - Quinta-feira

Plantação de soja em Mato Grosso do Sul - Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Para todos os lados, uma imensidão quase plana, do amanhecer, em Mato Grosso do Sul, ao anoitecer, em Mato Grosso. O segundo dia de viagem começou e terminou em estradas cercadas por fragmentos do cerrado, plantações de soja e fazendas de gado do Centro-Oeste. E, de manhã, os passageiros já sentiam as durezas do percurso. Enquanto as horas passavam, percebiam que não haveria parada para o café da manhã. No lavatório do único banheiro do ônibus, não havia água. E os mais atentos viram que estavam acompanhados de outras passageiras: baratas.

Com fome, os viajantes só saíram do Ormeño no começo da tarde. Uma parada com restaurante e banheiros, com ducha a R$ 3. Refresco que só se repetiria à noite.

Terceiro dia - sexta-feira

Quando a sexta-feira despertou, em Rondônia, a viagem alcançava a Região Norte do país e, de volta à BR-364, a pista irregular e os buracos agora eram companheiros do cansaço. A parada para atenuar a exaustão trazia uma boa notícia diante do calor da Amazônia: havia duchas para tomar banho. Do lado de fora, chamava a atenção o sobe e desce de prostitutas em caminhões na beira da estrada.

O dia seguiria até o jantar em Porto Velho, que terminaria de forma inusitada. A americana Angelika foi a última a voltar para o ônibus. Chegou munida de desinfetante para tentar afastar as baratas que a assustavam e limpar o banheiro do ônibus — o mesmo veículo para toda a viagem —, que já estava pela hora da morte.


Quarto dia - sábado

Sul-africanos chegam à Lima - Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Era começo de madrugada quando as luzes se acenderam, no primeiro ato de um sábado de incoerências. Começou com todos os passageiros tendo que descer do ônibus para atravessar, de balsa, o Rio Madeira, perto da divisa com o Acre. Uma ponte sobre o rio, na BR-364, está prevista desde 2010. O projeto foi licitado, e o início das fundações até ocorreu, em 2014. Mas a ponte ainda não ficou pronta.

É a obra que falta no caminho da Interoceânica, concluída nos anos 2000, mas que hoje tem trechos no Acre que mais lembram a pista de um rali. Condições que atrasaram a viagem, que só chegou à última cidade brasileira, Assis Brasil, às 10h15m. Na alfândega, sem revista das malas, nem o passageiro que levava 20 celulares comprados em São Paulo teve problemas. Mas uma suspeita levantada pela Polícia Federal trouxe tensão.

Sem que quase ninguém percebesse, de madrugada, em Rio Branco, cinco sul-africanos tinham embarcado no ônibus. Os policiais desconfiaram que as fotos nos passaportes não eram deles, que tinham traços sul-asiáticos. Além disso, os cinco vestiam camisas polo do mesmo modelo e, embora tenham alegado que viajavam a turismo, carregavam poucas malas. A polícia, então, resolveu examinar a bagagem do grupo. Um dos homens chegou a se esconder da inspeção. E, mesmo sendo alertada, a PF liberou os cinco para cruzar para Iñapari, no lado peruano.

Vencida essa etapa, alguns acompanhavam uma revista superficial das malas, outros trocavam reais por soles, a moeda peruana, no câmbio ilegal oferecido na rua, quando veio dos céus a recepção do Peru: um temporal amazônico. Ainda bem que, dali em diante, em direção a Puerto Maldonado e, à noite, ao começo da subida dos Andes, a estrada já não era o campo minado do lado brasileiro.

Quinto dia - domingo

Precipícios, picos e vales. A travessia dos Andes durou quase um dia, chegando a altitudes de 4.700 metros. Um cenário deslumbrante, mas que logo trouxe para alguns o soroche, o mal-estar gerado pelas alturas. Para tentar se sentir melhor, recorria-se a tudo: chupar pastilhas ou cheirar folhas de cebolinha. Mas o desconforto só se amenizou mesmo em terreno mais plano, à noite, depois de passar por cidades como Cusco e Abancay. Era o sinal de que Lima estava perto. Hora também de trocar contatos nas redes sociais. Afinal, o grupo viveu junto perigos e perrengues de lugares, às vezes, ermos. Mas, no confinamento do ônibus, também surgiram laços de amizade que suavizaram a distância.



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