quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Marcha lenta: Duplicação da BR-381 começa a sair do papel

09/08/2017 - Estado de Minas

Primeiros sete quilômetros da duplicação da rodovia serão em parte liberados este mês. Lideranças políticas de Minas querem aproveitar para trazer Temer ao estado e pressionar por mais verba

Marcelo da Fonseca

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Trechos que serão entregues têm cerca de sete quilômetros e estão localizados entre o município de Barão de Cocais e o trevo de Itabira (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Sete anos depois de anunciada pelo governo federal e mais de três anos após o início das obras, a BR-381 terá seus primeiros trechos liberados para motoristas nas próximas semanas.

Serão entregues cerca de sete quilômetros entre o município de Barão de Cocais e o trevo de Itabira – pouco mais de 2% do total de 303 quilômetros previstos para serem duplicados entre Belo Horizonte e Governador Valadares.

A liberação, mesmo que a conta-gotas, é vista como avanço por empresários e lideranças da região, que assistiram nos últimos três anos a vários cortes de verbas e a adiamentos na obra.

A Empresa Construtora Brasil (ECB), responsável pelos únicos dois lotes com obras em andamento na Rodovia da Morte – outros seis lotes estão totalmente paralisados –, prevê a liberação de trechos não contínuos da nova pista com o novo piso de concreto enquanto trabalha na restauração da pista atual. Os operários trabalham nesta semana em ações de drenagem para finalizar os trechos que serão entregues. Veja também: Rodovia da Morte chega a ter tráfego até 13 vezes maior do que o limite de segurança 

A rodovia continuará como mão dupla até a conclusão na reforma da pista existente.

Lideranças políticas mineiras estão organizando junto ao Palácio do Planalto e ao Ministério dos Transportes uma cerimônia para a inauguração dos primeiros quilômetros da BR-381.

A data prevista é 21 de agosto, no entanto, não está confirmada e dependerá da conclusão das obras e da agenda dos ministros. A presença do presidente Michel Temer (PMDB) também não foi confirmada pelo Planalto.

Desde que assumiu a Presidência da República, em maio de 2016, Temer nunca visitou Minas Gerais.

Somada à falta de nomeações de políticos mineiros para chefiar ministérios ou cargos de destaque no governo federal, muitos parlamentares e lideranças políticas locais reclamam do desprestígio ao estado demonstrado pelo peemedebista.

Durante reunião do diretório estadual do PMDB, o ex-governador Newton Cardoso (PMDB) chegou a afirmar que Temer era “inimigo” de Minas Gerais.

Com grande apoio da bancada mineira na votação que arquivou a denúncia contra Temer – 33 dos 53 deputados mineiros apoiaram o presidente –, cresceu a cobrança dos parlamentares em troca da fidelidade demonstrada ao Planalto.

“Vou convidar o presidente para acompanhar a abertura dos primeiros trechos. Ele comentou que queria vir a Minas, ou para ver as obras da BR-381 ou da BR-367 (no Vale do Jequitinhonha).

A ideia é fazer um evento suprapartidário, independentemente de quem apoiou o presidente na votação da Câmara”, disse o vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho (PMDB).
Justiça

Desde a assinatura da ordem de serviço para o início da duplicação da Rodovia da Morte, em 12 de maio de 2014, as obras passaram por vários obstáculos até que os primeiros quilômetros de asfalto ficassem prontos.

A previsão inicial era que cinco lotes seriam concluídos até 2016 e mais da metade da rodovia já estaria duplicada para os motoristas que atravessam Minas Gerais por essa estrada.

O agravamento da crise econômica e a queda na arrecadação a partir do segundo semestre de 2014 fizeram com que o planejamento inicial começasse a sofrer atrasos logo no primeiro ano das obras.

No início de 2015, a construtora espanhola Isolux-Corsán começou a abandonar vários lotes em que ela era responsável – 133 quilômetros da duplicação foram completamente abandonados.

Foi o início de uma disputa judicial e um jogo de empurra entre a empreiteira e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que durou até o ano passado.

Com poucas verbas para a retomada da maior parte da duplicação, a bancada mineira e empresários que se organizaram em defesa da duplicação pressionaram o governo federal para liberar recursos e finalizar os trechos em que as obras começaram.

O objetivo era evitar que terraplanagens e túneis concluídos ficassem abandonados, gerando prejuízo aos cofres públicos. Para 2017, foram reservados R$ 340 milhões para a conclusão do lote 7, entre o trevo de Itabira e o município de Caeté, e as obras de ligação nos túneis entre Nova Era e Antônio Dias.

Ao final do primeiro semestre deste ano, o Ministério dos Transportes ultrapassou a marca de meio bilhão desembolsado para a obra de duplicação – foram R$ 528 milhões gastos entre maio de 2014 e julho de 2017, sem contar os gastos com desapropriações às margens da rodovia.

Para a conclusão dos 303 quilômetros que ligam a capital mineira até Valadares – com pista duplicada e separadas por canteiros centrais – serão necessários mais R$ 2 bilhões. O governo federal não tem previsão de quando a obra será finalizada.