segunda-feira, 13 de junho de 2011

Para crescer, região Sul de SC espera a “nova” BR-101

13/06/2011 - Valor Econômico, Júlia Pitthan


Há dez anos, o Sul de Santa Catarina, região que reúne 42 municípios e cerca de 900 mil habitantes, aguarda pela duplicação da BR-101. A rodovia liga o Estado ao Rio Grande do Sul e aos países-membros Mercosul, e também ao Paraná e ao resto do Brasil pelo litoral.O trecho norte da estrada, que liga Florianópolis a Curitiba, ficou pronto no começo da década passada. As obras em solo gaúcho foram inauguradas no fim do governo Lula, em 2010.

Com cerca de R$ 1,4 bilhão já empregado - e uma estimativa de que o gasto da obra ultrapasse R$ 1,9 bilhão para concluir os 238,5 km de duplicação das pistas e obras de arte, como viadutos e túneis -, a expectativa é que as etapas mais problemáticas só fiquem prontas em 2015. Entre desvios e trechos de estrada transformados em canteiro de obras desde 2005, a economia da região se esforça para crescer.

Tradicional polo de produção de carvão mineral - cerca de 2,32 milhões de toneladas que respondem por 50% de extração da matéria-prima no país - e do setor de cerâmica, com 11 empresas e 5,6 mil empregados, que trabalham diretamente nas maiores empresas nacionais do segmento, o Sul catarinense enfrenta a necessidade de diversificar a economia.

O setor metal-mecânico, por exemplo, se desenvolveu em paralelo aos demais ciclos econômicos e já emprega 10 mil pessoas em 1,5 mil empresas espalhadas por toda região. O setor do vestuário cresce de 10% a 12% ao ano, e a estimativa é que existam cerca de 600 empresas no ramo da confecção na região, entre formais e informais.

Ao largo desses setores tradicionais, o empresário Jayme Antônio Zanatta, 76 anos, construiu um grupo de empresas que atua com autonomia na região. Começou com uma fábrica de embalagens, na década de 1970, em sociedade com o tio. Mais tarde, seguiu para os ramos de tubos e conexões de PVC e de tintas.

A Tubozan, de tubos e conexões, acaba de fechar uma associação com a Plásticos Vipal para a criação da BR Plásticos Participações. A joint venture, com 49% de capital da Tubozan e 51% da Vipal, será a terceira maior empresa transformadora do país na produção de componentes plásticos para a construção civil. A previsão é que, juntas, possam faturar R$ 250 milhões em 2011.

Há um projeto de investimento de R$ 20 milhões em modernização e expansão das unidades nos próximos dois anos - até o fim de 2012, a empresa terá oito unidades em operação. Em Santa Catarina, a empresa mantém a fábrica em Siderópolis, cidade próxima a Criciúma.

Com a Farben, a empresa de solventes e tintas técnicas voltada para a indústria de móveis, metal-mecânica e automotiva, Zanatta esperar crescer 14% este ano. Em 2010, o faturamento bruto da empresa foi de R$ 140 milhões. O plano de investimentos para os próximos cinco anos é de R$ 50 milhões na fábrica localizada em Içara, a 190 km de Florianópolis.

Em abril, a Farben firmou uma joint venture com a Imagraf Tintas Moveleiras, com sede em Arapongas, no Paraná. O objetivo é conquistar tecnologia das tintas e vernizes UV para o setor moveleiro, que secam rapidamente e conferem mais agilidade para o no processo industria. Com a união, a capacidade da Imagraf-Farben será de 2,5 milhões de litros por mês de tinta para o segmento moveleiro.

Zanatta sofre assédio de outros Estados para levar seus investimentos para fora de Santa Catarina. Rio de Janeiro e Espírito Santo já teriam feito propostas para o empresário, mas ele se mantém fiel ao objetivo de manter a sede das empresas no Estado, apesar dos planos de expansão.

Mesmo com a perspectiva de crescimento, a dificuldade de acesso à região prejudica os negócios da Farben. “Estamos investindo porque somos muito teimosos, porque não temos suporte de infraestrutura para crescer”, diz Edmilson Zanatta, gerente-administrativo da empresa e filho de Jayme.

De acordo com ele, é comum que no transporte rodoviário ocorram avarias nas cargas de tintas, o que gera custo na entrega. “Precisamos repensar a logística e concentrar um volume maior de estoque no centro de distribuição em São Paulo para poder atender no prazo os clientes”, conta Edmilson.

A dificuldade em trazer clientes para conhecer a sede das empresas na região também é um entrave para os negócios. Empresários de outras regiões temem a BR-101 Sul, conhecida pela violência e pelos constantes congestionamentos nos trechos em obras. A falta de uma escala de voos adequada no aeroporto de Criciúma - reivindicação dos empresários da região - também prejudica os negócios.

Para Ottmar Müller, presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica da região (Sindiceram), a mobilidade das pessoas fica prejudicada com o atraso das obras na BR-101 Sul. “É difícil quantificar o impacto que esse atraso representa, mas sem dúvida gera um aumento nos custos de frete e nos custos fixos de manutenção de frota.” O empresário diz que a região perde poder de barganha nas negociações por ser difícil receber clientes para fazer lançamentos ou apresentar a produção no local.

Depois de passar por dificuldades em função da queda das exportações, o setor cerâmico projeta crescimento para os próximos anos. Em dez anos, a capacidade produtiva dos fabricantes de cerâmica para revestimentos na região cresceu 11%. Até 2012, deve passar ter novo aumento, entre 5% e 6%. As vendas para o mercado interno vêm sustentando esse crescimento, segundo Müller.

O Sul catarinense, forte produtor de carvão, pode receber ainda um investimento de R$ 1,6 bilhão em Treviso. O projeto da Usina Termelétrica Sul Catarinense (Usitesc) já existe há dez anos, mas entrou em nova fase com a chegada de novos investidores, em 2009. Agora, o empreendimento já tem as licenças ambientais necessárias e aguarda leilão de energia que viabilize o investimento.

Com capacidade para gerar 440 MW, o empreendimento está em fase de contratação da empresa responsável pela engenharia, compra de materiais e equipamentos e construção. Segundo o engenheiro José Cunha, da Usitesc, as jazidas da região têm capacidade para atender o projeto por mais 60 anos.