04/03/2025 - Diário do Nordeste
Por Luciano Rodrigues
luciano.rodrigues@svm.com.br
Maiores trechos atualmente em duas faixas por sentido se concentram nas grandes cidades do Estado
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Legenda: CE-085, conhecida como Rodovia Estruturante, tem trechos duplicados até o limite da Grande Fortaleza. Foto: Ariel Gomes/Governo do Ceará
O Ceará tem 269 rodovias estaduais — conhecidas como CEs — que cortam o território, segundo dados disponibilizados ao Diário do Nordeste pela Superintendência de Obras Públicas do Estado (SOP-CE). Desse total, somente 2,6% estão passando por serviços de duplicação viária, o que corresponde a sete estradas.
Esses trajetos passam por 15 municípios do Estado, e incluem três rodovias que começam em Fortaleza. A maioria dos projetos tem em comum a característica de ser um prolongamento de trechos já duplicados, geralmente iniciados na Capital ou em demais grandes cidades do interior, como Crato e Juazeiro do Norte.
Uma das rodovias é a CE-293, importante ligação na Região Metropolitana do Cariri. De acordo com a SOP, está em execução o projeto de duplicação da rodovia em cerca de 27,4 quilômetros (km), entre Missão Velha e a BR-116 na altura do município de Abaiara.
Dentre as que estão em planejamento, destaca-se a CE-060, a maior rodovia estadual cearense. Interligando Fortaleza à Jardim, na divisa com Pernambuco, a estrada tem alguns trechos duplicados, sobretudo na Capital e na região do Cariri.
O que está em fase de elaboração do trajeto é a duplicação de 25 km entre Redenção e Baturité, passando por Aracoiaba, como um prolongamento da extensão já em pista dupla em ambos os sentidos, de Fortaleza até Redenção.
Legenda:
*: Segundo a SOP, a duplicação da CE-293/495 vai conectar dois pontos da CE-060 em Barbalha: na altura do km 522,5 da rodovia até o acesso à CE-060 na altura da rua Dr. Luciano Torres de Melo;
**: A CE-010 já se encontra totalmente duplicada. A SOP explica que realiza obras remanescentes da duplicação e melhorias do 4º Anel Viário de Fortaleza;
***: Estrada faz o contorno de Juazeiro do Norte;
****: Estrada faz o contorno do Crato.
Onde tem rodovia duplicada no Ceará?
Com poucas exceções, além do estado de conservação preocupante, o Estado tem, em sua maioria, rodovias estaduais em pista simples, isto é, com somente uma faixa em cada sentido. A CE-040, que interliga Fortaleza a Aracati, é uma das únicas totalmente duplicadas, com cerca de 140 km de extensão.
As outras estradas estaduais que saem de Fortaleza rumo a demais destinos estão totalmente duplicadas, mas somente no perímetro da Capital e, no máximo, em cidades da Região Metropolitana. É o caso da CE-010, CE-025, CE-060, CE-065, CE-085 e CE-090. O mesmo vale para as três rodovias federais iniciadas na cidade: BR-020, BR-116 e BR-222.
A CE-085, conhecida como Rodovia Estruturante, tem quase 400 km de extensão entre Fortaleza e Chaval, na divisa com o Piauí, e é duplicada em trechos. Além do trajeto entre Trairi e Itapipoca, o estudo para a duplicação contempla a interligação entre o Aeroporto de Cruz-Jericoacoara até a cidade de Jijoca de Jericoacoara.
"A via se interligará também com a CE-182, garantindo um acesso mais rápido a praias como Preá e Barrinha. Finalizado o projeto, a obra segue para as etapas de orçamento e licitação, com previsão de execução para o início de 2026", declara a SOP.
Essas informações também estão contidas nos mapas disponibilizados pela SOP. Depois de Fortaleza, o Cariri, especificamente no 'Crajubar' (acrônimo para Crato, Juazeiro e Barbalha) é onde concentram os trechos duplicados de rodovias, caso das CEs 060, 292, 293, 488 e 516, além da BR-122.
Vale a pena duplicar rodovias no Ceará?
Do ponto de vista da análise dos especialistas ouvidos pela reportagem, a duplicação de rodovias estaduais é fundamental, principalmente analisando questões de logística e econômicas, como pontua Heber Oliveira, professor do departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Se considerarmos que a matriz modal brasileira é fundamentada quase que exclusivamente no transporte rodoviário e que este meio de transporte promove o deslocamento origem-destino porta a porta, é vantajoso ter rodovias duplicadas para promover a viabilidade logística necessária. A existência de rodovias de pista simples pode dificultar esse deslocamento, criando gargalos que restringem ou impedem o fluxo necessário. Heber Oliveira, Professor do Departamento de Engenharia de Transportes da UFC
O especialista em mobilidade urbana Rafael Calabria elenca alguns pontos que podem ser cruciais para a decisão de se duplicar uma rodovia. Para além do alto fluxo de veículos e, consequentemente, cargas, é preciso entender se a segurança viária da estrada é eficaz para prevenir acidentes.
"Ao segregar bem ambos os sentidos da rodovia, evita-se boa parte das colisões, principalmente frontais. O que precisaria abordar para termos de carga é se a via já está saturada. Se a via comporta o que está sendo carregado, não existe uma necessidade inata de duplicação. A duplicação garante a segurança, é também vinculado à quantidade de veículos, porque com mais veículos aumenta o risco de ocorrências, mas também o nível de saturação daquela via", define.

Legenda: Maioria das rodovias estaduais no Ceará não são duplicadas, sobretudo aquelas distantes de grandes centros urbanos. Foto: Airton Lima Jr/SOP
Rafael Calabria é enfático ao afirmar que "não existe necessidade de duplicar todas as rodovias" existentes. No caso do Ceará, nas estradas próximas de grandes áreas logísticas, como os portos do Mucuripe e do Pecém, ter vias em pista dupla auxilia no transporte.
"Precisa ponderar essa questão da segurança e da saturação. Na saturação, o que costuma saturar mais as rodovias são os carros, não necessariamente as cargas, a não ser em algumas exceções, no caso do Ceará, as áreas próximas aos portos, que vão acabar concentrando a demanda", reflete.
Rodovias no Ceará têm mais trechos duplicados nas Regiões Metropolitanas
As três Regiões Metropolitanas do Estado (Cariri, Fortaleza e Sobral) concentram praticamente todos os trechos de rodovias, federais e estaduais, em pista dupla do território cearense. Para Heber Oliveira, essa é uma situação natural.
"As áreas industriais e os grandes centros de distribuição estão localizados nessas regiões. De início, pode-se pensar que são suficientes as duplicações, mas deve-se ter em mente que o objetivo do transporte rodoviário é o deslocamento 'porta a porta'. Se o produto sai de uma 'porta' do produtor numa rodovia duplicada e não encontra essa mesma rodovia duplicada na 'porta' do consumidor, a confiabilidade do sistema passa a ser desacreditada, sobretudo pela questão do tempo de entrega", observa.

Legenda: CE-292, na Região Metropolitana do Cariri, é uma das poucas rodovias estaduais duplicadas no Ceará. Foto: Nivia Uchoa/Governo do Ceará
Essa questão é definida como importante por Rafael Calabria pela capacidade de saturação das três regiões pela importância socioeconômica das cidades-núcleo, no caso Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte.
"Vai saturar mais perto da Região Metropolitana e das grandes cidades, como Sobral e no Cariri, e a segurança viária para conseguir um equilíbrio e definir prioridades. Até diria que existe uma demanda para isso sim", define o especialista.
É necessário investir somente em duplicações viárias para a logística?
Se o foco de duplicar as rodovias estaduais estiver concentrado somente em melhorar o transporte de cargas no Ceará, esse não é o caminho a ser adotado. Para Rafael Calabria, é preciso investir em ferrovias, a exemplo da Transnordestina, em construção no interior do território cearense.
A gente precisa tirar caminhões e transformar em mais ferrovias de carga. Precisamos deixar rodovias mais para alguns serviços e para os carros particulares de passeio. A grande demanda de infraestrutura nos estados e no Brasil todo é ferrovia de cargas. É isso que está mais atrasado e que transportaria muito mais, muito mais eficiente em termos de saturação da via. Rafael Calabria, especialista em mobilidade urbana

Legenda: A previsão é de que a obra da ferrovia Transnordestina seja totalmente concluída até 2027. Foto: João Lavor/TLSA
Já para Heber Oliveira, "sempre são benéficas as duplicações de rodovias", principalmente nos trechos com maior fluxo de "veículos comerciais", no caso do Brasil, automóveis de transporte de cargas.
"Promover melhor circulação de mercadorias em rodovias duplicadas com segurança e confiabilidade deveria ser o intuito maior das gestões rodoviárias, pois é uma relação ganha-ganha: o produtor, o consumidor, o estado e os demais agentes envolvidos direta e indiretamente", expõe.
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