quinta-feira, 3 de junho de 2021

Planos Rodoviários Nacionais

Histórico



Em 1790, na cidade do Porto, é publicado o Methodo para Construir as Estradas em Portugal, de autoria do Conselheiro José Diogo Mascarenhas Neto, dedicado ao Senhor Dom João Príncipe do Brazil, futuro Dom João VI.  Em 1797 é concluída a construção da Estrada Lisboa a Coimbra. O trecho até a cidade do Porto só seria concluído em meados do século XIX, em 1859, em função dos distúrbios provocados pelas invasões napoleônicas, e conflitos sangrentos  entre liberais e absolutistas.

Em 1822 o Brasil só contava com 12  aglomerados urbanos que ostentavam o título de cidade: Belém, São Luís, Oeiras, Paraíba (atual João Pessoa), Olinda, Salvador, Mariana, Cabo Frio, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Cuiabá.

Automóveis Importados no Brasil

1907 366
1908 297
1909 307

Em 27 de outubro de 1910, através do Decreto Nº 8.324, é realizado o primeiro ato governamental,  em nível federal, visando desenvolver e regularizar a implantação de estradas de rodagem, além da exploração comercial de veículos automotores.

Em 1916, é realizado no Rio de Janeiro o I Congresso Nacional de Estradas de Rodagem, por iniciativa do Automóvel Clube do Brasil.

Em 1926, no 4º Congresso Nacional de Estradas de Rodagem o engenheiro Joaquim Catramby apresenta o Plano Geral para a Base da Rede Rodoviária do Brasil. Foi o primeiro plano rodoviário nacional de que se tem notícia. Não foi aprovado oficialmente.


Plano Catramby de 1926


Em 1928, a Comissão de Estradas de Rodagens Federais, encarregada da construção das estradas Rio-São Paulo e Rio-Petrópolis, elabora um plano rodoviário nacional, onde é lançada a ideia de duas grandes rodovias longitudinais, uma pelo litoral e outra pelo interior.

Plano da Comissão de Estradas de Rodagens Federais de 1928


No dia 24 de julho de 1928, criação da Polícia Rodoviária Federal pelo presidente Washington Luiz através do Decreto nº 18.323 - que definia as regras de trânsito à época , com a denominação inicial de "Polícia de Estradas". Mas somente em 1935 Antônio Felix Filho, considerado o 1º Patrulheiro Rodoviário Federal, foi chamado pelo administrador Natal Crosato, a mando do Engenheiro-Chefe da Comissão de Estradas de Rodagem, hoje DNER, Yeddo Fiúza, para organizar os serviços de vigilância das rodovias Rio-Petrópolis, Rio São Paulo e União Indústria. Da época de sua criação até meados de 1939, o Sistema Rodoviário incluía apenas as rodovias Rio Petrópolis, Rio - São Paulo, Rio - Bahia e União Indústria. Somente em 1943, no Estado do Paraná, foi criado um Núcleo da Polícia das Estradas, com o objetivo de exercer o policiamento de trânsito em rodovias em construção naquele Estado. Daí em diante, foi-se ampliando a área de atuação da Polícia Rodoviária Federal.



Em 14 de abril de 1931, o Ministro da Viação, José Américo de Almeida baixa portaria nomeando uma comissão "para proceder ao estudo do plano de viação geral do Brasil". Somente em 1934, o Governo Federal aprovou pela primeira vez um Plano de Viação Nacional, mas que ainda não contemplava o modal rodoviário.

Plano Geral de Viação Nacional de 1934


Em agosto de 1933, é lançado o primeiro número do Guia Rodoviário do Automóvel Club do Brasil.

Em junho de 1936, a Comissão de Estradas de Rodagem Federaes, com sede no Rio de Janeiro, tinha como atribuições a conservação e a melhoria das estradas Rio-Pouso Seco (divisa de São Paulo), Rio-Petrópolis, União e Indústria (até a divisa de Minas Gerais), Estrella, Presidência, Itaipava-Therezopolis, e ao estudo e início das obras das estradas Areias-Caxambu e Rio-Bahia. A Inspectoria Federal de Obras contra as Scecas, estava encarregada das obras rodoviária no Nordeste. Duas Comissões militares estavam encarregadas de obras rodoviárias no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso.

Em junho de 1937, o presidente da república envia uma mensagem à Câmara com o anteprojeto que transforma a Comissão de Estradas de Rodagens Federaes em repartição de caráter permanente, subordinada ao Ministério da Viação e Obras Públicas, sob a denominação de Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. 

No dia 31 de julho de 1937, através da Lei nº 467, é criado o Departamento Nacional de Estrada de Rodagem (DNER), transformado em autarquia em 27 de dezembro de 1945.

"O DNER, que a princípio tinha somente a função de conservar as estradas Rio-São Paulo, no território fluminense, Rio-Petrópolis, União Indústria até Juiz de Fora, de levar a efeito a construção da Itaipava - Teresópolis, e a conservação da velha estrada da Estrella, antiga ligação do Rio de Janeiro com Petrópolis, teve gradativamente suas atividades aumentadas dentro do programa estabelecido pelo Governo"

Ainda em 1937, o DNER apresenta seu plano rodoviário baseado no plano anterior da Comissão de Estradas de Rodagem de 1928, com algumas modificações, com a ampliação de grandes eixos da Amazônia e supressão de alguns traçados na região sul.

Plano Rodoviário do DNER em 1937




Em fevereiro de 1942, foi formada uma comissão para a elaboração do primeiro Plano Rodoviário Nacional, aprovado em março de 1944, composto por 27 rodovias:

Longitudinais

Getúlio Vargas        Belém - Jaguarão
Panordestina          São Luís - São Salvador
Transnordestina     Fortaleza - Salvador
Transbrasiliana       Belém - Livramento
Amazônica             Santarém - Porto Dom Carlos
Acreana                  Cuiabá - Cruzeiro do Sul

Transversais

Do Maranhão                            São Luís - Carolina
Do Piauí                                    Terezina - Loreto
Do Rio Grande do Norte           Natal - Barra
Da Paraíba                                Cabedelo - Icó
De Pernambuco                        Recife - Petrolina
De Alagoas                                Maceió - Paulo Afonso
De Sergipe                                 Aracaju - Juazeiro
Da Bahia                                    Salvador - Porto Nacional
Centro-Oeste                             Vitória - Mato Grosso
Do Estado do Rio de Janeiro     Entre Rios - Resende   
Do Estado de São Paulo            Santos - Corumbá
Do Paraná                                  Foz do Iguaçu - Paranaguá
De Santa Catarina                      Curitiba - Torres
Do Rio Grande do Sul                Torres - Uruguaiana
Do Sul de Mato Grosso             Porto 15 de Novembro - Porto Murtinho

Ligações

Recife - Salvador
Rio de Janeiro - Belo Horizonte
Belo Horizonte - São Paulo
Resende - Araraquara
Vacaria - Passo Fundo
Dourados - Ponta Porã


Plano Rodoviário Nacional de 1944


No dia 19 de fevereiro de 1942, através da Portaria nº 168, é criada a Comissão do Plano Rodoviário Nacional. O Plano Rodoviário é estabelecido através do Decreto nº 15.093 de 20 de março de 1943.

Em 1942, o Brasil contava com apenas cerca de 1.000 Km de rodovias pavimentadas, para uma frota de 197.316 veículos. 

Em 8 de janeiro de 1946, o Ministro da Viação e Obras Públicas, Engenheiro Maurício Joppert da Silva, resolve constituir uma Comissão para rever e atualizar o Plano Geral de Viação Nacional aprovado em 1934 junto com o Plano Rodoviário Nacional de 1944. 

Na revisão e atualização do Plano Rodoviário de 1946  foram acrescidos os seguintes trechos ao Plano de 1944:



 Plano Rodoviário Nacional de 1946


Em 1964, através da Lei nº 4.592 de 29 de dezembro de 1964, entra em vigor o novo Plano Nacional de Viação, alterando a nomenclatura das rodovias em vigor desde o Plano Rodoviário Nacional de 1946:

Radiais

010    Brasília - Belém
020    Brasília - Fortaleza
030    Brasília - Campinho
040    Brasília - São João da Barra
050    Brasília - Santos
060    Brasília - Bela Vista / Fronteira Paraguay
070    Brasília - Cáceres / Fronteira Bolívia
080    Brasília - Içana / Fronteira Colômbia

Longitudinais

101    Natal - Osório
104    Macau - Atalaia / BR-316
110    Areia Branca - Salvador
116    Fortaleza - Jaguarão
122    Montes Claros - Parnamirim
135    São Luís - Rio de Janeiro
146    Patos de Minas - São Paulo
153    Tucuruí - Aceguá
156    Macapá - Fronteira Guiana Francesa
158    São Félix - Livramento
163    Rondonópolis - São Miguel do Oeste
165    Santarém - Cuiabá
172    Canumã - Vilhena
174    Manaus - Fronteira com a Venezuela
    
Transversais

222    Fortaleza - Piripiri
226    Natal - Araguaína
230    Cabedelo - Carolina
232    Recife - Parnamirim
234   Caruaru - Paulo Afonso
235    Aracaju - Araguacema
236    Abunã - Rio Branco - Vila Japiim - Fronteira Peru
242    São Roque - Porto Artur
251    Camacã - Montes Claros - Brasília
259    João Neiva - Felixlândia
262    Vitória - Corumbá
265    Muriaé (MG) - Lavras (MG)
267    Leopoldina (MG) - Porto Murtinho
272    São Paulo - Porto Guaíra
277    Paranaguá - Foz do Iguaçu
280    São Francisco do Sul - Dionísio Cerqueira
282    Florianópolis - São Miguel do Oeste
285    Vacaria - São Borja
290    Osório - Uruguaiana
293    Pelotas - Uruguaiana
    
Diagonais

304    Boqueirão do Cesário - natal
307    Benjamin Constant - Taumaturgo
308    Icó - Itapicuru Mirim
316    Belém - Maceió
317    Brasiléia - Lábrea
319    Beruri - Guajará-Mirim
324    Remanso - Salvador
330    Bom Jesus - Ubaitaba
342    Carinhanha - Linhares
343    Luís Correia - Bertolínia
349    Estância - Posse
354    Engenheiro Passos - Caxambu
364    Porto Velho - Limeira
365    Montes Claros - Canal de São Simão
369    Ourinhos - Cascavel
373    Limeira - Capão Bonito
374    Presidente Venceslau - São Paulo
376    Dourados - São Luiz do Purunã
377    Carazinho - Quaraí
381    Governador Valadares - Bragança Paulista
383    São João del Rei - São Sebastião
386    São Miguel do Oeste - Porto Alegre
392    Porto Lucena - Pelotas
393    Cachoeiro de Itapemirim - Manilha
    
Ligações

401    Boa Vista  - Fronteira da Guiana Inglesa
402    Içana - Fronteira da Venezuela
403    Itaituba - BR-163
405    Mossoró - BR-116
406    Lábrea - Humaitá
407    Picos - Petrolina
408    Itapicuru Mirim - Santa Inês
409    Feijó - Santa Rosa
410    Tucano - Ribeira do Pombal
411    Elvira - BR-317
412    Campina Grande - Monteiro
413    Caxias (Estirão do Equador) - BR-307
414    Anápolis - Niquelândia
415    Ilhéus - Vitória da Conquista
416    Cáceres - Mato Grosso
418    Teófilo Otoni - Caravelas
451    Montes Claros - Governador Valadares
452    Rio Verde - Araxá
453    Itaqui - Santiago
454    Porto Esperança - Forte Coimbra
455    BR-381 - Ipatinga - Entre Folhas - BR-116
456    Nhandeara - São José do Rio Preto - Matão
459    Poços de Caldas - Lorena
460    Cambuquira - Vidinha (Pouso Alto)
462    Angra dos Reis - Volta Redonda
463    Dourados - Ponta Porã
464    Magé - BR-135
465    Campo Grande (Rio de Janeiro) - Viúva Graça
466    Santiago - Santo Ângelo
467    Porto Mendes - Cascavel
468    Curitiba - Garuva - Joinville
469    Foz do Iguaçu - Parque Nacional
470    Itajaí - Campos Novos
471    Pelotas - Chuí
472    São Borja - barra do Quaraí
473    Acegua - Arroio Grande - BR-471
483    Itumbiara (GO) - Paranaíba (MT)
484    São Mateus (ES) - Itaperuna (RJ)

Ligações Internacionais:

Uruguay

BR-471    Chuí
BR-116
BR-153
BR-473
BR-472

Argentina

BR-290

Paraguay

BR-060
BR-369
BR-272
BR-463
BR-060
BR-267    Porto Murtinho

Bolívia

BR-070
BR-454    Corumbá
BR-416    Mato Grosso
BR-319    Guajará-Mirim
BR-317    Brasíléia

Peru

BR-236    Cruzeiro do Sul

Colômbia

BR-402    Içana

Guiana Inglesa

BR-401    Bonfim

Guiana Francesa

BR-156    Oiapoque

Venezuela

BR-174
BR-402    Içana

Em 1967,o Geipot elabora o Plano Diretor Rodoviário, que orientou o Plano Nacional de Viação de 1967. 

Em 16 de julho de 1970, é publicado o Decreto-lei nº 1.106 criando o Programa de Integração Nacional visando promover plano de obras e infraestrutura no Norte e Nordeste do país, dando como prioridade a implantação da Rodovia Transamazônica (BR-230).

Em 8 de novembro de 1971, o presidente Garrastazu Médici assina o Decreto-lei que estabelece o Plano de Desenvolvimento do  Centro Oeste (PRODOESTE), que deveria mobilizar recursos da ordem de 650 milhões de cruzeiros no período 1972-1974, visando criar uma rede rodoviária básica no sul de Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal, incluindo estradas vicinais, silos, armazéns e frigoríficos, promovendo o desenvolvimento da região.

Notas:

1 - Previsão de pavimentação de 900 km de rodovias em Mato Grosso, o dobro da rede existente. 

2 - Segundo o DNER, uma estrada é viável para ser asfaltada a partir de fluxo de 300 veículos/dia.
 
3 – Mato Grosso só contava com uma rodovia pavimentada para o resto do país, para São Paulo, via Bataguassu (MS) / BR-267.

4 – O Prodoeste visava também promover a expansão da fronteira agrícola do sul do país para o Centro-Oeste.

Concessões

Em 1993, foi lançado o Programa de Concessões de Rodovias Federais, criado pela Portaria Ministerial nº 10/93. A Ponte Rio-Niterói, em 1994, foi o primeiro trecho concedido à iniciativa privada.

DNIT

Em 5 de junho de 2001, através da Lei nº 10.233, é criado o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes, substituindo o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), autarquia criada em 1937. No mesmo ano é criada a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), pela Lei nº 10.233. Em 2005 a ANTT assume a condução dos estudos necessários para a licitação de concessões de rodovias federais, até então realizados pelo Ministério dos Transportes.

Planos de Viação do Brasil

1927 Plano da Comissão de Estradas de Rodagem Federais
1931 Plano Rodoviário do Nordeste. Decreto nº 19.726 de 20/02/1931
1934 Plano Geral de Viação Nacional. Decreto nº 24.497 de 29/06/1934        [a]
1937 Plano do DNER
1944 Plano Rodoviário Nacional. Decreto nº 15.093 de 20/03/1944
1951 Plano Nacional de Viação
1956 Planos Rodoviário e Ferroviário Nacional. Lei nº 2.975 de 24/11/1956    [b]
1964 Plano Nacional de Viação. Lei nº 4.592 de 29/12/1964
1967 Plano Rodoviário Nacional. Decreto-Lei nº 142 de 02/02/1967
1973 Plano Nacional de Viação. Lei nº 5.917 de 10/09/1973.

[a] Alterado em 1956
[b] Atualizado em 1964

Fonte: BRASIL. Ministério dos Transportes. Planos de Viação, Evolução Histórica. Conselho Nacional de Transportes, 1974.




A Estrada Parque do Contorno em vermelho, onde se localiza o Km 0 das rodovias federais que partem de Brasília em 7 raios. Para ampliar clique na imagem


Em 30 de maio de 2023, em audiência pública na Comissão de Infraestrutura, o presidente do DNIT diz aos senadores que prioridade é recuperar estradas.


REFERÊNCIAS:

Obras Públicas. Estradas de Rodagem. Brazil Ferro-Carril. Rio de Janeiro. 30 junho 1937. p.304.

PASSOS, Deputado Edison. Plano Nacional de Viação e Conselho Nacional de Transporte. 1949. Câmara dos Deputados. Comissão de Transportes, Comunicações e Obras Públicas. Departamento de Imprensa Nacional. Rio de Janeiro. 1952.

Em audiência pública, senadores pedem a diretor do DNIT agilidade nas obras viárias. Agência Senado. 31 maio 2023.