quarta-feira, 7 de junho de 2023

Campinas

15 anos de história: um passeio pelo Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo

06/06/2023 - Hora Campinas

Inaugurado no dia 4 de junho de 2008, Rodoviária de Campinas já atendeu quase 100 milhões de passageiros


O Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo, na Vila Industrial, foi inaugurado no dia 4 de junho de 2008. Foto Leandro Ferreira/Hora Campinas.

O local de chegada e partida de Campinas representa o encontro de muitos perfis. Viajantes apressados e sossegados se misturam com quem espera sentado em algum canto ou numa mesa de lanchonete. Perdidos em busca de informação são muitos. E até mesmo a informante atrás do balcão não sabe de tudo. No último domingo (4), aquele espaço de chegada e partida completou 15 anos. “Já? Não sabia”, disse a funcionária surpresa.

Em meio ao corre-corre do dia a dia, o tempo passa e poucos percebem, ainda mais dentro de um lugar onde o ponteiro do relógio é ditatorial. Mas o Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo, na Vila Industrial, inaugurado no dia 4 de junho de 2008, já tem uma década e meia, com o status de ser o segundo maior terminal do Estado de São Paulo, perdendo somente para a Rodoviária do Tietê. E no período, cerca de 98 milhões de passageiros já foram atendidos dentro da área onde o vai e vem em Campinas acontece, com média diária de 14 mil usuários. Os números são da Socicam, empresa responsável pela administração do terminal.

Cerca de 98 milhões de passageiros já foram atendidos na nova Rodoviária. Foto Leandro Ferreira/Hora Campinas

Ainda segundo a Socicam, o terminal tem 1.073 linhas interestaduais e intermunicipais, além de 46 empresas de ônibus que operam no local.

A área total do espaço é de 70 mil m², com 22 mil m² de construção. O complexo inclui o Terminal Metropolitano Magalhães Teixeira, sob responsabilidade da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), e uma área, na Estação Cultura, onde está prevista a construção de um ponto de chegada e saída do futuro Trem Intercidades (TIC), que ligará Campinas à São Paulo, segundo informou o governo do Estado. A licitação para o TIC já está aberta e a previsão é de que as operações só tenham início em 2030.

O Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo surgiu com a função de substituir a antiga Rodoviária Dr. Barbosa de Barros, que era situada no terreno onde é hoje o Hospital São Luiz, inaugurado no último dia 10 de maio, entre as Avenidas Andrade Neves e Barão de Itapura, na região central.

A nova edificação era uma demanda antiga na cidade, cujo crescimento exigia um complexo moderno de embarque e desembarque de ônibus. A antiga rodoviária foi desativada em 2008 e implodida em 2010.

“Aquele lugar era terrível, não havia segurança e já não atendia mais a população”, resume o taxista Moacir Barcelo, que trabalhou no local e hoje opera no terminal Ramos de Azevedo. “Aqui, a localização é melhor e há mais segurança, inclusive com agentes espalhados por todo o complexo”. A antiga rodoviária tinha 12 plataformas de ônibus e a atual conta com 40.

O Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo surgiu com a função de substituir a antiga Rodoviária Dr. Barbosa de Barros. Foto Leandro Ferreira/Hora Campinas.

A construção teve início em 2006. “A área era um descampado com algumas casas de ex-funcionários da antiga estação ferroviária”, lembra Murilo Tanaka, um dos proprietários do supermercado localizado em frente à Rodoviária. Projetada pela Prefeitura de Campinas, a edificação foi inspirada no trabalho do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, que dá nome ao terminal e o torna um dos cartões postais de Campinas. O artífice é responsável por importantes marcos arquitetônicos na cidade, como a Catedral Metropolitana, o Mercado Municipal (Mercadão) e a Casa de Saúde.

No interior, a área de espera e compra de passagens conta com amplo comércio que inclui livraria, lanchonetes, cafés e lojas de presentes, doces e cosméticos. Há ainda serviços de guarda volumes, achados e perdidos e caixas eletrônicos. As poucas referências à história de Campinas estão em algumas fotos de prédios antigos emolduradas em quadros na parede. Na livraria, não há cartão postal.

A área de espera e compra de passagens conta com amplo comércio que inclui livraria, lanchonetes, cafés e lojas de presentes, doces e cosméticos. Foto Leandro Ferreira/Hora Campinas

Rescaldos da pandemia

O movimento na rodoviária estava fraco nesta segunda-feira (5). Nada que surpreenda os comerciantes locais. “Normalmente está sendo assim ultimamente”, diz o taxista Cláudio Luiz, de 76 anos, proprietário de um dos 70 táxis licenciados para operar no terminal. Os veículos se aglomeram na fila da rampa de acesso ao portão principal e a espera pelo embarque de algum passageiro leva, em média, 2h. A situação representa ainda um rescaldo da pandemia, afirmam os motoristas.

Iraneide Correa Ribeiro, no entanto, não se intimida. Aos 60 anos, ela é uma das quatro mulheres que trabalham com táxi na rodoviária. “Ocupo o lugar do meu ex-marido, que trabalhou por 40 anos, mas precisou parar, pois perdeu a vista”, conta Iraneide, que opera no local há nove anos. “Deixei a profissão de cozinheira para dirigir táxi. Tem dia que faço 12 horas. Graças a Deus, nunca tive problema com violência.”

A rodoviária permitiu o desenvolvimento do comércio a sua volta, mas, curiosamente, levou prejuízo ao estabelecimento que fica mais próximo à área. Uma unidade do Tanaka Supermercados, localizada em frente ao terminal e que ocupa o espaço há 20 anos, teve uma queda de aproximadamente 50% no faturamento após a inauguração da rodoviária, segundo um dos proprietários.

“Trabalhávamos como atacadistas e os clientes se perderam aqui em meio à bagunça da movimentação e do trânsito. Precisamos mudar e passamos a atuar no setor de varejo. Tínhamos 60 funcionários e hoje temos 26”, conta Murilo Tanaka para quem a situação piorou após a pandemia.

Em contato frequente com usuários da rodoviária, Tanaka ainda revela um outro impacto gerado pela pandemia: a falta de passagens e ônibus, que, segundo ele, virou rotina no terminal.

“Já vi gente que precisou ficar uma semana por aqui para conseguir embarcar. Ônibus para São Paulo, por exemplo, que tinha a cada 15 minutos, agora é dentro de um intervalo de uma hora. Pior ainda é para quem chega na rodoviária com a passagem comprada e não consegue embarcar. Muitos também precisam dormir no terminal, pois só encontram possibilidade de viagem no dia seguinte.”