quinta-feira, 3 de junho de 2021

Santa Catarina

Histórico da Estrada Dona Francisca

30/05/2018 - Jornal do Povo

Pela estrada Dona Francisca, transitavam caravanas de carroças transportando mercadorias do planalto para o litoral e vice-versa.

Por Celso Carvalho

Considerações Iniciais

Temos o maior prazer em divulgar o lançamento de mais um livro do Professor Doutor José Kormann: "Histórico da Estrada Dona Francisca" que, na verdade, é uma reedição do mesmo tema publicado em 1989 pela Imprensa Oficial de Santa Catarina. Naquela época, 2O mil exemplares foram distribuídos consolidando enorme sucesso. Antes, ainda, em 1880, por ocasião da comemoração do Centenário de Rio Negrinho, José Kormann escreveu e editou o livro "O Rio Negrinho Que Eu Conheci", um estrondoso sucesso que logo esgotou-se em todas as bancas ficando muita gente sem a oportunidade de lê-lo. São tantos os que comentam que Kormann deveria reeditá-lo acrescentando todo o rico conhecimento por ele adquirido em todos estes anos até nossos dias. Com certeza, novamente o livro se converteria em pomposo e magnificente êxito.

O livro e o autor

Neste livro algumas fotos foram trocadas por outras e a impressão ficou bem melhor em papel envernizado. Os dados históricos e o número de páginas permanecem. O livro está à venda em vários pontos da cidade ao insignificante preço de R$ 3.00. Vale a pena "saboreá-lo! Aproveitando este lançamento falaremos um pouco da Estrada Imperial Princesa Dona Francisca tomando, como base, os dados do livro do autor. Os desenhos desta reportagem são de Celso Carvalho.

Estrada Dona Francisca em 1880.

Nos anos finais do século XIX, pela estrada Dona Francisca, transitavam caravanas de carroças transportando mercadorias do planalto para o litoral e vice-versa. A estrada era estreita e alguns acidentes aconteciam apesar de todo cuidado tomado pelos condutores das carroças à beira dos precipícios.

Carroça em disparada

Quando os cavalos se assustavam a vida das pessoas e dos animais corriam riscos de sérios ferimentos e até de morte porque era muito difícil controlá-los numa corrida desenfreada que, quase sempre, fatalmente terminava em tragédia. A história da Estrada Dona Francisca é o começo da história da colonização imigratória no planalto norte de Santa Catarina. Durante muito tempo, ela - a estrada - foi o principal corredor comunicativo entre as vilas do planalto e as da planície litorânea. Por ela os produtos vinham e iam, abastecendo o comércio, a indústria e os lares de lá e de cá.

O Príncipe e a Princesa

Essa bela moça era a Princesa Francisca que "flechou" o coração do filho do Rei da França com o qual casou (foto). O começo dessa história foi quando a Princesa Dona Francisca, filha de D. Pedro I e irmã de D. Pedro II, casou em 1843 com o Príncipe de Joinville, François de Orleans, filho do Rei Louis Philipe da França. Em 1845 e 1846, 25 léguas quadradas de terras foram anexadas à Comarca de São Francisco do Sul como dotes do Príncipe e da Princesa que deu origem à Colônia Dona Francisca, hoje Joinville. O casal de príncipes foi morar na França e nunca mais voltou ao Brasil. Mas, uma revolução na França depôs o Rei, e François e Francisca fugiram para a Inglaterra onde, exilados e sem os meios suficientes para sobreviver, lembraram-se das suas terras no Brasil e as ofereceram à Sociedade Colonizadora e aos organizadores da imigração de colonos para o Brasil. Em 1849 foi firmado um contrato de venda de oito léguas quadradas das suas terras que seriam destinadas para uma colonização de imigrantes no Brasil em grande escala, que se estabeleceria no alto da serra onde, mais tarde, seria São Bento do Sul. Para que tal empreendimento acontecesse era necessário abrir uma estrada que ligasse Joinville ao planalto. A serra, naqueles tempos, era um grande empecilho e motivo de curiosidade para os litorâneos que teciam variadas fantasias sobre aqueles vastos montes azuis: - como seria e o quê havia lá em cima? -Que tipo de bichos havia naquelas florestas? -e os índios canibais? Quem morava lá? - como fazer para chegar até lá?... E, assim, só aumentava o desejo de vencer as pomposas muralhas azuladas, que pareciam intransponíveis.

O engenheiro Carl A. Wunderwald no alto da serra

Em 1853, o engenheiro Carl August Wunderwald subiu ao planalto pela primeira vez com três trabalhadores pela mata da Serra para abrirem picada que mais tarde seria a estrada Dona Francisca. Em 1854, este mesmo engenheiro encontrou a subida definitiva pela serra. Em 1855, outro engenheiro, Carl Pabst, fixou o traçado da futura estrada, pela abertura de picadas, até o povoado de Rio Negro, atual Mafra, onde, desde 1929, já moravam colonos alemães. Este engenheiro descreveu as vantagens de uma estrada nos belos trechos da serra que encurtaria muito o tempo para o transporte de mercadorias do planalto até Joinville e ao porto de São Francisco do Sul em vez de levá-las até Morretes, no Paraná, que era um caminho bem mais longo.

Carroças descendo a serra.

Este desenho retrata a estrada um pouco antes de 1880 que já estava aberta até Campo Alegre e São Bento do Sul. Em 1856, o engenheiro Carl A. Wunderwald subiu novamente a serra, acompanhado pelo engenheiro militar do Governo Imperial que aprovou o traçado da futura estrada. Em 1858, o engenheiro Carl August W. subiu pela última vez a picada estabelecida, com mais 14 trabalhadores, para conferir se tudo estava certo. Neste mesmo ano, Léonce Aobé, diretor da Colônia Dona Francisca, iniciou a construção da picada Aobé que seria o primeiro trecho da Estrada Dona Francisca.

Trabalhadores na construção da estrada.

O trabalho penoso da construção da estrada era tarefa para homens fortes que enfrentaram calor, frio, chuva, ventos e todo tipo de dificuldades causadas por picadas de mosquitos e cobras venenosas, além do medo de ataque de onças e dos índios porque pensavam que eles fossem canibais. Serviam-se de pás, picaretas, enxadas, serras manuais, ponteiros e marretas e tudo dependia da força braçal, pois não havia máquinas e nem aparelhos que facilitassem o trabalho.

Índios antropófagos

Os primeiros imigrantes imaginavam que os índios habitantes das terras brasileiras se alimentavam de carne humana, assim, como os caetés do litoral do nordeste que devoraram vivo o Bispo Sardinha em 1556. Mas, os silvícolas da selva litorânea e da Mata Atlântica do sul do Brasil não tinham tal hábito. Pelo contrário, eram muito amigáveis e amáveis. Em futuras edições abordaremos este fascinante tema. Na próxima edição continuaremos o Histórico da Estrada Dona Francisca. José Kormann está prestes a lançar um novo e encantador livro que conta a história das intrigas entre os índios moradores da região de Corupá na antiguidade. É um romance de tirar o fôlego, que se desenrola desde as margens de lindos rios e à beira de cachoeiras até as regiões praianas. Aguarde!

 Apreciações Finais

Nós, rionegrinhenses, devemos ter orgulho deste ilustre concidadão, José Kormann, que tantas benfeitorias trouxe e continua trazendo para a nossa abençoada cidade e região. É muito justo exponenciá-lo a muitos zeros à direita em nossa melhor apreciação porque ele é luz para nossa insipiência, é porto seguro para nosso reabastecimento cultural, e está entre os poucos que dedicaram uma vida em prol e defesa de um povo. Esta benemerência é justa, cabível e necessária a um escritor que já publicou 23 livros, também pelo que ele representa à nossa educação, à nossa política e à nossa cultura e pelo seu impecável exemplo de vida que serve de espelho para todos nós. Por hoje é só! Obrigado! Um grande abraço de Celso e outro de Mariana! Fique com Mamãe e Papai do Céu !